Ninguém discorda do fato de que essa pandemia seja extremamente grave. As medidas contra estão sendo tomadas, o isolamento social é uma maneira matematicamente correta de conter o avanço da contaminação. Cada um de nós deve ficar atento e seguir as recomendações amplamente divulgadas por todos os meios de comunicação, redes sociais incluídas. O que está errado é o exagero.
A Medida Provisória 926, de 20/03/20, autorizou estados e municípios a tomarem medidas que considerem necessárias controlar a epidemia, entre elas, explicitamente, restringir o tráfego de veículos intermunicipal e interestadual. Faz sentido, é mais do que sabido que se o maldito vírus literalmente consegue viajar de um continente a outro, o que dirá entre estados e até mesmo entre municípios.
Só que no dia 7 passado a Prefeitura de São Paulo implantou novo rodízio na cidade — o “normal”, criado em setembro de 1997 a título “experimental”, mas que está aí até hoje, o que é uma vergonha, estava suspenso desde 17 de março.
A regra anterior era carros de final de placa 1 e 2 não poderem circular às segundas-feiras de 7h00 às 10h00 e de 17h00 às 20h00, e assim sucessivamente para os demais finais de placa, até sexta-feira.
Agora o rodízio é por final da placa, em que finais 0, 2, 4, 6 e 8 só podem rodar nos dias pares, e os outros finais, nos dias ímpares. Isso nas 24 horas do dia, independentemente de ser dia útil, sábado, domingo ou feriado.
Até aqui, normal, era de esperar, o poder público de São Paulo tem mostrado ao longo dos anos um prazer sádico de criar novidades só para incomodar os munícipes, enquanto problemas reais não são resolvidos. Um exemplo é a qualidade da pavimentação abaixo da crítica, com ondulações e buraco típicos de campos de prova de fabricantes. Outro, para não dizer que só penso em automóveis, são as calçadas da cidade que mais parecem pista de corrida com obstáculos. Muitas, por exemplo, têm inclinação lateral que requer muito cuidado ao caminhar, especialmente se molhadas.
Então o atual prefeito, Bruno Covas, resolve voltar com o rodízio explicado acima. Rodízio na cidade, portanto intramunicipal. Nem intermunicipal, nem interestadual, como reza a MP 926. Mas — e esse seria tema perfeito para a série televisiva dos anos 1980, “Acredite se quiser” — o prefeito anunciou no mesmo dia que a autarquia que administra o serviço de ônibus da capital, a SPtrans, vai acrescentar 1.000 (mil) ônibus à frota e reunir mais 600 para ficarem de prontidão caso a demanda aumente. Não dá para entender, parece até brincadeira.
Quer dizer então que para tentar deter o avanço do Sars-Cov-2 a ideia é juntar pessoas nos ônibus, quando é justamente nos automóveis particulares que a proteção contra o vírus é absoluta?
Meu dever de jornalista, munícipe e cidadão impeliu-me em seguida ao anúncio deste rodízio sem nexo a escrever à Ouvidoria do Ministério Público Estadual clamando por providências jurídicas contra a Prefeitura diante do colossal absurdo. Se funcionou ou não eu não sei, mas o fato é foi publicado Metro Jornal de sexta-feira (8/5) que o MPE já está atrás da prefeitura para explicações. Não fui só eu que estranhou esse novo rodízio.
Dentre as aberrações da medida da prefeitura de São Paulo, táxis estão liberados da restrição, mas o serviço de aplicativos, não. Serviços iguais com tratamento diferenciado, o que é inadmissível, como se apenas motoristas de táxi tivessem obrigações e os de aplicativo, não. Outra aberração é motociclos terem permanecido livres para circular, como se motociclistas fossem de uma casta especial.
Controlar a contaminação é essencial neste momento, mas sem exageros e absurdos.
Bob Sharp é jornalista, foi piloto de competição e teve três passagens pela indústria automobilística. É também o editor-técnico da CARRO e mais um apaixonado por automóveis. Você concorda, discorda ou quer esclarecer algum assunto com o nosso colunista? Envie sua mensagem para: escortbayan1.com@hotmail.com.
cronica perfeita , o poder publico baixa decretos e não ouve o publico.