A pandemia do covid-19 fez estragos mais do que conhecidos e dispensam comentários, mas há um que venho notando: a cabeça das pessoas entrou em parafuso. É como se o raciocínio e a lógica tivessem sofrido danos que torço serem temporários.
Um dos primeiros sinais veio do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, que bem no começo da pandemia, em março, mandou restabelecer o rodízio da capital — havia sido suspenso — com novo formato de proibição: em vez de um par de números dos finais de placa determinar um dia de restrição por semana, como sempre foi desde 1997 — rodízio esse que é uma vergonha para a cidade e uma afronta ao direito do cidadão — passou ao critério de final de placa par e ímpar para impor a restrição, na base do dia sim, dia não.
Paralelamente à “brilhante” medida, a Prefeitura cuidou de aumentar a frota de ônibus em 4.000 veículos, já que as pessoas continuariam a ter que se locomover. Em vez do distanciamento social proporcionado pelo carro particular, era o confinamento nos ônibus, o contrário do que deveria ser. A medida só durou uma semana.
Não se pense que é fácil administrar uma cidade de porte grande, pois não é, especialmente diante de um problema desse vulto, algo que ninguém se atreveria imaginar. Mas mitigaria a dificuldade de todos usar o bom senso.
Depois desse exemplo de providência “inteligente” veio outro: dificultar o tráfego de veículos fechando ruas ou reduzindo a largura do leito carroçável. Não podia dar outra, engarrafamentos artificiais começaram a inevitavelmente acontecer.
Falando de veículos, é apenas observação pessoal: os motoristas estão mais desatentos, mais “desligados” da condução, o trânsito está diferente, requer mais cuidado.
Não precisaria toque de recolher se a população entendesse que o contágio da covid-19 se dá principalmente pela proximidade das pessoas uma das outras. Mas numa espécie de loucura coletivas essa questão foi ignorada a olhos vistos, como praias lotadas, mostrado pela tevê nas reportagens.
É como se o toque de recolher fosse essencial para se chegar ao necessário distanciamento, quando deveria ou era de se esperar que cada cidadão fizesse a sua parte conscientemente. Pois nunca houve tanta informação sobre um assunto de interesse geral como hoje.
A loucura inclui imaginar que a capacidade hospitalar para atendimento dos infectados e doentes é ilimitada. De novo a ocupação de leitos chega ao nível crítico, e a capacidade dos hospitais sabidamente não aumenta da noite para o dia.
Um bom exemplo de comportamento adequado é a volta do funcionamento da indústria em geral e dos fabricantes de veículos automotores, seguindo rígidos protocolos sanitários, com aumento crescente da produção de automóveis desde agosto, mostrando vitalidade mesmo num ano atípico e difícil como esse.
Bob Sharp é jornalista, foi piloto de competição e teve três passagens pela indústria automobilística. É também o editor-técnico da CARRO e mais um apaixonado por automóveis. Você concorda, discorda ou quer esclarecer algum assunto com o nosso colunista? Envie sua mensagem para: escortbayan1.com@hotmail.com.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista CARRO.
É a mesma situação do tempo de abertura de lojas e espaços públicos. Com mais tempo, a tendência seria menos aglomerações. A prefeitura perdeu uma boa oportunidade para começar e planejar o uso do tempo no centro da cidade, alterando horários de funcionamento, criando patamares de horários, permitindo que não houvesse – ou pelo menos reduzisse – os horários de pico.
Talvez seja uma ideia inexequível, mas poderia ser tentada. Ao invés de permitir apenas, 50% dos funcionários, usá-los todos, mas de maneira que, em dado momento, estivessem apenas 50% deles trabalhando.